terça-feira, 7 de abril de 2009

Digressões sobre o cyberespaço

Não sei se nóia minha,  mas eu acho que as pessoas eram mais interessantes e tinham mais a falar antes da internet. Nem de longe estou falando mal da grande rede: sou internauta daqueles que ficam pelo menos duas horas por dia em frente ao computador querendo interagir e saber de tudo. Saber de tudo. Esse é o problema.

Há uns 20 anos atrás, quando ainda era adolescente, eu tinha vontade de querer saber de tudo, de encontrar as informações que bem entendesse na hora em que tivesse necessidade. Era uma coisa meio utópica. Por saber ser utopia, me contentava com as enciclopédias e delirava ao sentir o cheiro de mofo das bibliotecas, especialmente das seções de periódicos. Tanto que comecei a colecionar jornais e revistas com as notícias que mais me interessavam. Muita coisa já se perdeu nas mudanças de casa, mas ainda tenho muita coisa aqui guardada. Vários exemplares da revista Bizz (no auge da minha fase MTV), matérias de títulos do Vasco, eleições, Rock in Rio e, lógico, reportagens de carnaval. Aliás, essa é a única coleção que ainda mantenho. Todo ano compro todos os jornais do Rio de sábado de carnaval até a quinta-feira seguinte. Esse ano, tive que mobilizar minha pobre mãe na tarefa de correr atrás dos exemplares de sábado e domingo de carnaval, até que, com minha chegada ao Rio, completei tranquilamente minha coleção.

Hoje em dia,  temos a internet. Todas (ou quase todas) as informações que queremos estão a um ou dois cliques. Mas, sinceramente, não sei se estamos preparados para isso. Pelo menos, a minha geração, que teve provinhas do Jardim de Infância rodadas em mimeógrafos e que agora vê os sobrinhos e afilhados olhando para o seu gravador K7 como se ele fosse um artefato da idade da pedra.

Temos toda a informação do mundo, mas não sabemos processar. Temos todas as facilidades e deixamos de treinar nossas memória e compreensão. Antes do celular, eu sabia todos os telefones de cor. Agora, só falta eu puxar na memória do aparelho o telefone de casa. Ainda não o esqueci, graças ao telemarketing, que sempre nos pede para confirmar nossos dados quando ligamos para as centrais - um belo exercício mnemônico, diga-se de passagem. Graças a isso, ainda sei o meu número de CPF e RG.

No Rio de Janeiro, temos o hábito de encontrar um conhecido na rua e falar: "pô... vamos marcar de tomar um chope um dia desses... eu te ligo!". Sim. A versão digital desse hábito está no MSN e o Orkut. Você encontra ou conhece alguém e já logo pergunta se a pessoa usa esses serviços. Você o adiciona. Pronto. Mais um na sua multidão virtual.

Meu Orkut tem 914 amigos. Isso porque estou começando, de leve, a fazer uma faxina. Meu MSN tem 263 contatos e, neste momento que vos escrevo, tenho 23 online. Isso deve ocorrer com você também. Aí eu pergunto: quantas pessoas te mandam recado diariamente? Não me refiro a correntes de e-mails ou scraps genéricos e engraçadinhos. E sim, a mensagens onde o emissor e o receptor são definidos desde o início e há uma preocupação genuína com uma conversa. Sim. Uma simples conversa. Reconheço que é impossível travarmos contato periódico com tanta gente. Mas, cá entre nós: nos tempos do telefone e da carta, nós dedicávamos mais tempo às pessoas queridas, não?

A internet é muito contraditória. Aproxima e, ao mesmo tempo, afasta as pessoas. Nos traz informação, mas não nos ajuda a processar conhecimento.

Bem, é o que acho. Ou será que estou ficando esclerosado?

Um comentário:

  1. bem... o q dizer??
    eu só tenho a agradecer à "mãe" net...rsrs

    you know, you know...


    bjs,
    :)

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